Muitas mulheres senegalesas não se podem aproximar do mar. Acreditam ouvir as vozes dos seus filhos mortos, que lhes suplicam que os tirem da água.
Yaye Bayem era uma delas. Até que um dia decidiu secar as lágrimas e convocou várias vizinhas da vila piscatória de Thiaroye a 20 km a Sul de Dakar.
Desde então, cada tarde, dezenas de mães e viúvas de emigrantes afogados quando tentavam chegar às Canárias, reunem-se na praça para rezar.
Mas Yaye Bayem fez mais: convenceu as vizinhas a trabalhar. "Disse-lhes que não podiamos só chorar, porque dessa forma apenas conseguiriamos ficar ainda mais pobres".
Foi assim como esta mulher de 48 anos fundou a associação Mães e Viúvas dos Cayucos que já agrupa 550 familias de Thiaroye.
Bayem está em Espanha a convite da fundação Comissão Espanhola de Ajuda aos Refugiados e durante um mês manterá entrevistas com numerosas autoridades e empresários.
O seu objectivo é obter ajudas para implementar o sistema de microcrédito que a sua organização pôs em marcha para ajudar a acabar com a emigração clandestina que na sua opinião "põe em perigo a construção do Senegal".
A 25 de Março do ano passado, afundou-se perto das Canárias um cayuco em que viajavam 80 habitantes de Thiaroye. Algumas familias desta vila perderam até 4 membros naquele naufrágio. Entre as vítimas encontrava-se também Alioune Mar, o filho único de Bayem.
A tragédia não só trouxe dor como pobreza a Thiaroye porque se tinham endividado até às orelhas para reunir os 700 euros que custava cada lugar na embarcação. Além do que a sua fonte de rendimentos desapareceu com os seus parentes.
Foi o caso de Bayem porque o filho era o único a trazer dinheiro para a sua casa em que vivem umas 50 pessoas. "Alioune pescava. As mulheres da familia vendiamos o peixe e depois repartiamos o dinheiro. No entanto desde há 10 anos que o peixe escasseia cada vez mais e é muito dificil renovar o material porque não há dinheiro." De aí a necessidade de os jovens emigrarem.
"Muitos filhos senegaleses entregaram as suas vidas ao tentar dar de comer à sua familia. Agora somos nós, as mulhers, que devemos trabalhar" afirma Bayem. E acrescenta "As mulheres sabemos organizar-nos. Os homens senegaleses são incapazes de o fazer, e além disso nem lhes interessa".
Bayem organizou as mulheres da sua casa para que cada uma contribuisse com mil francos CFA (pouco mais de 1 euro) por mês. Com esse dinheiro puderam comprar peixe aos pescadores de outros clãs, transformá-lo em farinha e vendê-la.
A ideia teve êxito e no pátio de Bayem reunem-se agora numerosas vizinhas que se ajudam, consolam, recebem ajuda psicológica e trabalham para fazer triunfar as suas pequenas empresas.
Fazem sumos de frutas ou pão, tingem tecidos para vender aos turistas. Parte do dinheiro que obtêm empregam-no em microcréditos que, por sua vez, alimentam novos negócios.
Aqui o artigo no El País
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