Hoje o D. em Língua Portuguesa tinha uma teste/ficha sobre o Acordo Ortográfico. Estudou por umas fotocópias que a Prof. lhes deu de um "livro resumo" para saber como desaprender o aprendido desde há 6 anos.
Fui incapaz de lhe fazer perguntas e o ajudar! Foi o Pai, eu NÃO quero nem saber das mudanças, faz-me cá uma comichão ver certos termos assim escritos...
Já sei da minissaia e do cor-de-rosa mas do cor de laranja, do verão e da quinta-feira, e obviamente da ação e do fato e do espetador de teatro, mas mais do que isto não quero saber!
Volto a fazer minhas as palavras do Miguel Esteves Cardoso:
«Os portugueses no fundo assinaram um
Pacto ortográfico que sabe a pato. Ninguém imagina os espanhóis, os Franceses,
ou os Ingleses a lançarem-se em acordos tortográficos, a torto e a direito,
como os Portugueses. Cada país – Seja Timor, seja o Brasil, seja Portugal – tem
o direito e o dever de deixar desenvolver um idioma próprio, Portugal já tem
uma língua e uma ortografia próprias. Há já bastante tempo. O Brasil, por sua
vez, tem conseguido criar um idioma de base portuguesa que é riquíssimo e que
se acrescenta ao nosso. Os países africanos que foram colónias nossas avançam
pelo mesmo caminho. Tentar «uniformizar» a ortografia, em culturas tão
diversas, por decretos aleatórios que ousam passar por cima de misteriosos
mecanismos da língua, traduz um insuportável colonialismo às avessas, um
imperialismo envergonhado e bajulador que não dignifica nenhuma das várias
pátrias envolvidas. É uma subtracção totalitária.
A ortografia brasileira tem a sua razão
de ser, e a sua identidade. Quando lemos um livro brasileiro, desde um «Pato
Donald» ao Guimarães Rosa, essas variações são perfeitamente compreensíveis.
Até achamos graça. Como os Brasileiros acham graça à nossa. Tentar
«uniformizar» artificialmente a ortografia, para além das bases mínimas da
Convenção de 1945, é da mesma ordem da estupidez que pretender que todos os que
falam português falem com a pronúncia de Celorico ou de Salvador da Bahia. é
ridículo, é anticultural, é humilhante para todos nós. Se não tivessem já
gozado, era caso para mandá-los gozar com o Camões.
Imaginem-se os biliões de cruzeiros,
escudos, meticais, patacas e outras moedas que vai custar a revisão ortográfica
de todos os livros já existentes. Imagine-se o distanciamento escusado que se
vai causar junto das gerações futuras, quando tentarem ler escorreitamente os
livros do nosso tempo. Sobretudo, imagine-se a desautorização e a relativização
que o acordo implica. Amanhã, uma criança há-de escrever esperanssa e quando
for chamada a atenção, dirá «tanto faz, que estão sempre a mudar, e qualquer
dia desaparecem as cês cedilhados». Ou responderá, muito simplesmente: «Pai,
mas é assim que se escreve em
Cabo Verde !»
“A língua
portuguesa nasceu do latim – toda a gente sabe. Um dia, a língua brasileira, e
a língua são-tomense, e a língua angolana serão também línguas novas e
fresquinhas que nasceram da língua portuguesa. Ninguém há-de respeitar menos a
língua por causa disso. (Nós também não desrespeitamos o latim.) As línguas são
indissociáveis das culturas e das histórias nacionais, e elas são diferentes em
todos os países que hoje falam português à maneira deles. A maneira é a maneira
deles, e a nossa é a nossa. A única diferença é que Portugal já há muito que
achou a sua própria maneira, tanto mais que a pôde ensinar a outros povos, e é
um ultraje e um desrespeito pretender que passemos a escrever como os
Moçambicanos ou como os brasileiros. Eles são países novinhos. Nós somos
velhinhos, e não faz sentido ensinar os velhinhos a dizer gugudadá, só para que
possam «falar a mesma língua» que as criancinhas.»
e tenho a sorte de não ter nem corrector ortográfico novo no pc do trabalho, e de ter chefes espanhóis longe que se estão borrifando para como eu escrevo
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