20 junho 2007
Recebí este e-mail de um amigo e fiquei pasma
Não acompanho este tema ao pormenor, mas sei que os professores andam descontentes; mas também já andam descontentes desde há, pelo menos 21 anos quando eu o fui também! (bolas que foi há muito!)
Assim, googlei o nome do autor - Fernando José Rodrigues - e o senhor existe e até é o que diz! (isto da internet já me tem céptica/surda para muitos pedidos, abaixo-assinados, divulgações e coisas que tal)
E assim decidi transcrever
Opinião
*FERNANDO JOSÉ RODRIGUES * professor do ensino secundário, escritor
Ruy de Carvalho, um dos melhores actores portugueses de sempre, cumpre, esta semana, 60 anos da sua brilhante e celebrada carreira.
Tem sorte Ruy de Carvalho em não ser professor pois, caso o fosse, estaria a celebrar, em vez de seis décadas, apenas sete anos dessa longa carreira...
Passo a explicar com mais detalhe, pois, eu próprio, também ainda não percebo muito bem mais uma das muitas maquiavdices do Ministério, alegadamente, da Educação.
Como é do conhecimento geral, o Ministério dividiu a carreira dos professores em duas, sendo uns, poucos, professores titulares e os restantes, a grande maioria, uns meros acólitos, a partir de agora vulgar, rasca e simplesmente tratados por professores!
Feita esta divisão no papel, havia que organizar o concurso para que os professores do último escalão progredissem para professores titulares.
Embora desconfiando das promessas da benemérita ministra, nunca os professores (nos quais me incluo, nos professores e nos desconfiados!), repito, nunca os professores pensaram ser tão pouca e tão pobre a esmola com que nos quer obsequiar.
Então como funciona esse concurso para professor titular? Desde já digo que é facil, é barato e não é para milhões. Pela Internet, os professores enviam os formulários onde registam os passos das suas carreiras, os seus cargos e os seus desempenhos a diferentes níveis.
Mas aqui começa a grande embrulhada, salpicada com muita dose de má-fé, de cinismo e de falta de respeito pelos professores, que a senhora ministra teima em não ver como
parceiros, mas como inimigos.
E tudo isto porque o Ministério pretende fazer uma análise curricular de uma carreira... somente pelos últimos sete, repito, sete anos!
Ou seja, só conta, diz-nos tão pedagógica figura, o que fizeste nos últimos sete anos. A nossa carreira vale apenas isso...sete anos!
A título de exemplo, vejamos o meu caso (como o meu haverá os de muitos colegas):
tenho 28 anos de serviço, onde fui tudo o que se pode ser numa escola.
Enumero algumas para que a vergonha possa cobrir a cara de quem manda:
fui Presidente do Conselho Directivo durante seis ou sete anos,
Presidente do Conselho Pedagógico,
Presidente do Conselho Administrativo,
coordenador dos directores de turma, director de turma, delegado de disciplina, acompanhante da prática pedagógica, exerci, durante dez anos, funções docentes como Leitor de Língua e Cultura Portuguesas, do Instituto Camões, nas Universidades de Portsmouth (Reino Unido) e de Estocolmo (Suécia), escrevi manuais didácticos, fiz investigação na área das Aprendizagens e das Novas Tecnologias, apresentei bastantes comunicações (não foram nem uma, nem duas) em conferências internacionais (desde Espanha ao México, passando pelo Brasil, Inglaterra, Suécia, etc..), fiz várias actualizações em diversos domínios, tirei uma pós-graduação, criei e lancei um Clube de Rádio numa escola, fui, durante estes 28 anos, professor com P grande, professor com toda a alma e com todo o coração...
E vem agora uma senhora ministra, dizem, da Educação!, comunicar-me (comunicar-nos!) que isto de nada vale, que fui um tolo em ter feito tanta coisa, que uma vida como professor se resume simplesmente a sete anos?!
Que a análise curricular para se poder aceder a professor titular, se baseia, unicamente, numa fracção da minha vida toda como docente?
Que análise curricular é esta?
Que fraude me querem impor?
Dentro da trapaça imensa que é este concurso, há situações em que o Ministério ora acha que algo tem efeitos retroactivos, ora acha que não.
Neste último, já vimos que vinte e um anos (21) da minha carreira não contam!
Mas contam as faltas, qualquer que tenha sido o seu motivo! Por exemplo, o Ministério que me mandou fazer formação e me deu dispensa para a frequentar, vem agora penalizar-me
porque obedeci e a frequentei! Mas isto não é de doidos?
Isto não é uma atitude não só provocatória como de desprezo em relação à actividade docente? Afina onde está o prémio pelo mérito, pelo esforço e pela excelência?
E o que fazem agora os professores? Lutam contra esta iniquidade ou andam já a contar os pontinhos para aceder ao Olimpo?
E qual é a posição dos professores que são, neste momento, deputados? PS, PSD, CDS, PCP, Verdes, BE? Preciso (precisamos) de saber o que pensam para podermos) retribuir, em conformidade, na hora das decisões.
Apetece-me convocar Almada Negreiros e parafrasear o seu Manifesto:
uma geração, que consente deixar-se representar por [esta monstra] é uma geração que nunca o foi! (...)
Se [esta ministra é portuguesa], eu quero ser espanhol!
PIM-PAM-PUMH
*FERNANDO JOSÉ RODRIGUES* Professor, escritor, 28 anos de serviço reduzidos a 7
PS: Vejam bem que não há só gaivotas em terra, quando um homem se põe a pensar! (José Afonso)
e aqui ficou mais uma achega para formar opinião sobre a dita reforma da carreira de professor nesta nossa terrinha
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1 comentário:
É por estas e por outras semelhantes é que a nossa classe anda desmotivada como nunca visto antes.
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