23 outubro 2006
Water
34 milhões de viúvas no censo de 2001 na India vivem em condiçõs de precariedade.
Para quantos biliões de habitantes? Qual a proporção? Não me interessa, não devia haver nem uma só!
As outras duas alternativas para elas são o ser queimadas vivas na pira funerária do marido ou, caso a familia autorizasse, casar com o irmão mais novo do defunto.
Lá para 1938 saiu a lei que lhes permite casar de novo «... mas só cumprimos as leis que nos interessam » diz um estudioso das Leis Sagradas de Manu
E assim confirma-se o que explica Narayana, disfarçada de religião está a verdadeira razão economicista e o poderoso e omnipresente dinheiro «...poupam-se 4 saris por ano, há mais espaço no canto familiar, é uma boca a menos para alimentar»
Não sei descrever o bonito que é este filme. As cores, a luz, as paisagens, o seu ritmo, o da vida que flui dócil como ao sabor do rio sagrado apesar do sofrimento horrível da castração da vida, da esperança de outra vida para estas mulheres
As suas caras, os seus corpos, a árvore imensa que se esparrama em todas as direcções, que oferece sombra e abrigo; a candeia da oferenda e o gesto delicado das mãos que a transporta com devoção; a ablução em águas sagradas e o curvar de entrega perante um altar dos deuses; a alegria das pinturas de cores vivas - fonte de vida da tão maravilhosa e prodiga natureza - a única celebração permitida; o triste do branco, a ausência de cor/vida mas também a pureza que simboliza.
A música, por falta de identificação, não me transportou a nenhum estado de alma específico, mas acompanhou bem a história sem chegar nunca a ser agobiante
Toda a história desgarra as entranhas
Ser mulher tem sido lixado em qualquer parte do globo desde os primórdios dos tempos, porra!
São casamentos forjados no berço e viúvas na infância, vidas com o prazer excisado e as vaginas cozidas, adolescências vendidas em bordéis de má morte, escravidão de trabalho, suor e lágrimas, burkas e apedrejamentos.
E o que nos custou noutras latitudes fugir a um destino não tão precário e poder brincar e aprender e escolher e votar e poder abortar!
Por isto e muito mais, é que, mesmo em branco, eu voto, sempre! Custou caro a outras mulheres aqui chegar
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