16 junho 2006

estou baralhada com esta semana de sextas-feiras prefiro os feriados à 2ª, 4ª ou 6ª via e-mail Lápis português a escrever há setenta anos Francisco Mangas Hernâni Pereira Com ele escrevemos as primeiras palavras, escrita tímida, provisória. Impreciso fascínio. Com ele se faz o povoamento de muitas cores do pequeno mundo dos desenhos infantis. O único lápis português, que nasceu em Vila do Conde e se fixou em São João da Madeira, completa agora setenta anos. Os responsáveis da Viarco comemoram a data com uma exposição itinerante, que já passou pelo Porto, e o lançamento de uma série limitada de cinco lápis que vão andarilhar pelas mãos de vários artistas.António aceitou o desafio. Recebeu o Viarco Express, um lápis negro , da série limitada: cabe agora ao cartunista executar um trabalho. Terminada a obra, com o mesmo lápis escreve uma carta a um amigo, onde o convida a continuar a viagem. Ou seja, o lápis, seguindo sempre o mesmo processo, andará de mão em mão amiga até ficar completamente gasto. Os restantes quatro lápis também já têm transitório dono: Miguel Vieira, designer de moda, Baltasar Torres e Joana Vasconcelos, artistas plásticos; o último Viarco Express foi destinado a um arquitecto que, em princípio, será Álvaro Siza Vieira. Em Dezembro, todos os trabalhos executados vão ser expostos, no Museu da Chapelaria, em São João da Madeira, e depois leiloados.José Miguel Vieira, responsável pela Viarco, pretende com estas iniciativas culturais chamar a atenção para a única fábrica de lápis do País, a sua longa história, e concretizar apoios para um grande projecto: a criação do museu do lápis, nas instalações anexas à unidade de produção, em São João da Madeira. Uma pequena parte do vasto espólio da Viarco esteve já exposto, no Porto, no Maus Hábitos. A mesma exposição, que integra colecções de lápis antigos, embalagens e outros material gráfico, passará ainda por Lisboa, Coimbra, Aveiro, Viseu, Vila do Conde e Vila Nova de Cerveira.O espólio está a ser objecto de estudo por parte de Carlos Coutinho, que prepara uma tese de mestrado, no domínio da museologia e património, sobre o lápis português. "O património da Viarco é único em Portugal" e, em certos casos, na Europa, assegura o investigador.José Miguel Vieira e Carlos Coutinho visitaram recentemente o único museu do género que existe na Europa, o Cumberland Pencil Museum, em Inglaterra. Os visitantes regressaram com a mesma impressão: o espólio da Viarco é mais rico e mais diversificado. Por outro lado, a fábrica de São João da Madeira possui "peças do processo produtivo que são quase únicas a nível mundial".De muitas das séries de lápis produzidas na Viarco, como é evidente, não existe qualquer exemplar. No entanto, é possível recriar esse material aparentemente perdido no tempo. "Nos nossos arquivos" - diz José Miguel Vieira, que é bisneto do fundador da fábrica - "existe o registo em papel, com as especificidades do material, e as gravuras originais". Com esses elementos, é possível de novo produzir aqueles lápis.Do espólio o investigador Carlos Coutinho, que também é um dos responsáveis do Museu Malhoa, destaca, além da maquinaria remota e rara, a colecção de lápis de publicidade - um segmento de produção que a Viarco continua a explorar com sucesso -, com centenas de exemplares, que serve de documento para a história das nossas empresas e firmas, muitas delas entretanto encerradas.Todas estas peças aguardam por um espaço museológico, que fisicamente já existe, mas falta o dinheiro para o transformar. Segundo o projecto de José Miguel Vieira, o museu integraria também uma sala de exposições e ateliers destinados a jovens artistas portugueses. A administração da Viarco quer continuar a relação aberta com os homens das artes. Esse diálogo já ultrapassou fronteiras: no Centro de Arte de São João da Madeira, Pascal Nordmann mostra as suas máquinas da escrita, uma instalação para ver até ao dia 17 de Junho.Na longa história da fábrica, emerge um lápis de má memória para os portugueses. Foi aqui, durante a vigência do Estado Novo, que os censores se abasteceram: é o celebre lápis azul, traço grosso, insensível à palavra liberdade. No jornal das 13:00 na SIC noticias esta tarde mostravam os trabalhadores da fábrica da OPEL da Azambuja em concentração e tinham um cartaz enorme que rezava assim: "Não à deslocalização da Opel" Dúvida: não sería antes "Não à deslocação (para Espanha, ainda por cima...) da OPEL" ?

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